Como devemos fazer? 
Deixai que vo-lo explique com um exemplo (cf. Eloy 
Bueno de la Fuente, A Mensagem de Fátima. A misericórdia de Deus: o 
triunfo do amor nos dramas da história, 22014, pg. 235-237): se 
recebermos uma nota de dinheiro falsa, uma reação espontânea, e até 
considerada lógica, seria passá-la a outra pessoa. Nisto se vê como 
todos somos propensos a cair numa lógica perversa, que nos domina e 
impele a propagar o mal. Se me comportar segundo esta lógica, a minha 
situação muda: era vítima inocente quando recebi a nota falsa; o mal dos
 outros caiu sobre mim. Mas, no momento em que conscientemente passo a 
nota falsa a outrem, já não sou inocente: fui vencido pela força e a 
sedução do mal, provocando uma nova vítima; converti-me em transmissor 
do mal, em responsável e culpado. A alternativa é travar o avanço do 
mal; mas isto só é possível pagando um preço, ou seja, ficando eu com a 
nota falsa e, assim, libertando os outros do avanço do mal.
Esta reação é a única que pode travar o mal e vencê-lo. 
Os seres humanos
 alcançam esta vitória, quando são capazes de um sacrifício que se faz 
reparação; Cristo consegue-a, mostrando que o seu modo de amar é 
misericórdia.  
Um tal excesso de amor, podemos constatá-lo na cruz de 
Jesus: carrega o ódio e a violência que caem sobre Ele, sem insultar nem
 ameaçar vingança, mas perdoando, mostrando que há um amor maior. Só Ele
 o pode fazer, carregando – por assim dizer – com a «nota falsa». A sua 
morte foi uma vitória alcançada sobre o mal desencadeado pelos seus 
algozes, que somos todos nós: Jesus crucificado e ressuscitado é a nossa
 paz e reconciliação (cf. Ef 2, 14; 2 Cor 5, 18).
«Vieste afastar a nossa ruína, procedendo com retidão na presença do 
nosso Deus»: rezamos nós, nesta noite de vigília, como um imenso povo em
 marcha seguindo Jesus Cristo ressuscitado, iluminando-nos uns aos 
outros, arrastando-nos uns aos outros, apoiando-nos na fé em Cristo 
Jesus. De Maria, escreveram os Santos Padres que Ela, primeiro, concebeu
 Jesus na fé e só depois na carne, quando disse «sim» ao convite que 
Deus Lhe dirigiu através do Anjo. Mas aquilo que aconteceu de forma 
única na Virgem Mãe, verifica-se espiritualmente conosco sempre que 
ouvimos a Palavra de Deus e a pomos em prática, como pedia o Evangelho 
(cf. Lc 11, 28). 
Com a generosidade e a coragem de Maria, ofereçamos a 
Jesus o nosso corpo, para que Ele possa continuar a habitar no meio dos 
homens; ofereçamos-Lhe as nossas mãos, para acariciar os pequeninos e os
 pobres; os nossos pés, para ir ao encontro dos irmãos; os nossos 
braços, para sustentar quem é fraco e trabalhar na vinha do Senhor; a 
nossa mente, para pensar e fazer projetos à luz do Evangelho; e 
sobretudo o nosso coração, para amar e tomar decisões de acordo com a 
vontade de Deus".
