sábado, 14 de outubro de 2017

Vigiar olhando a Cristo Crucificado




Somente Cristo crucificado nos salvará dos demônios que nos fazem “deslizar lentamente para a mundanidade”, salvando-nos até mesmo da “insensatez” da qual fala São Paulo aos Gálatas – e “da sedução”.
(…)
O Senhor – explica o Papa – “pede para sermos vigilantes”, para não cairmos em tentação. 
Por isto, o cristão está sempre “em vigilância, vigia, está atento”, como “um sentinela”.
“(…) porque os demónios entram “na surdina”:
“Começam a fazer parte da vida. Também com as suas ideias e as suas inspirações, ajudam aquele homem a viver melhor... e entram na vida do homem, entram em seu coração e por dentro começam a mudar este homem, mas tranquilamente, sem fazer barulho.
(…)
A mundanidade, por outro lado, é “um passo adiante na ‘possessão’ do demônio”, acrescenta Francisco.
É um “encantamento”, é a “sedução”. Porque é o “pai da sedução”.
E quando o demônio entra “tão suavemente, educadamente e toma posse de nossas atitudes”, explica o Papa, os nossos valores “vão do serviço a Deus à mundanidade”.
Assim nos tornamos “cristãos mornos, cristãos mundanos” com uma “mistura” - que o Papa chama de “salada de frutas” - entre “o espírito do mundo e o espírito de Deus”.
(…)
“Vigiar significa entender o que acontece no meu coração, significa parar um pouco e examinar a minha vida.
Sou cristão?
(…)
Minha vida é cristã ou é mundana? E como posso entender isso?
A mesma receita de Paulo: olhar para Cristo crucificado.
A mundanidade só vê onde está e se destrói diante da cruz do Senhor.
E este é o propósito do Crucifixo em nossa frente: não é um ornamento;
É exatamente o que nos salva desses encantamentos, dessas seduções que nos levam à mundanidade”.
O Pontífice exorta a nos perguntarmos se olhamos para o “Cristo crucificado”, se fazemos “a Via Sacra para ver o preço da salvação”, não só dos pecados, mas também da mundanidade”:
“Então, como eu disse, o exame de consciência, para ver o que ocorre. Mas sempre diante do Cristo crucificado. A oração.
E depois, fará bem fazer-se uma fratura, não nos ossos: uma fratura nas atitudes confortáveis: as obras de caridade. Estou confortável, mas vou fazer isso, que me custa. Visitar uma pessoa doente, ajudar alguém que precisa... não sei, uma obra de caridade. E isso rompe a harmonia que procura fazer esse demônio, esses sete demônios com o chefe, para fazer a mundanidade espiritual”. (Papa Francisco. Homilia na Casa de Santa Marta 13/10/2017)

sábado, 13 de maio de 2017

Conceber 1º na Fé e depois na carne

Como devemos fazer? 
Deixai que vo-lo explique com um exemplo (cf. Eloy Bueno de la Fuente, A Mensagem de Fátima. A misericórdia de Deus: o triunfo do amor nos dramas da história, 22014, pg. 235-237): se recebermos uma nota de dinheiro falsa, uma reação espontânea, e até considerada lógica, seria passá-la a outra pessoa. Nisto se vê como todos somos propensos a cair numa lógica perversa, que nos domina e impele a propagar o mal. Se me comportar segundo esta lógica, a minha situação muda: era vítima inocente quando recebi a nota falsa; o mal dos outros caiu sobre mim. Mas, no momento em que conscientemente passo a nota falsa a outrem, já não sou inocente: fui vencido pela força e a sedução do mal, provocando uma nova vítima; converti-me em transmissor do mal, em responsável e culpado. A alternativa é travar o avanço do mal; mas isto só é possível pagando um preço, ou seja, ficando eu com a nota falsa e, assim, libertando os outros do avanço do mal.
Esta reação é a única que pode travar o mal e vencê-lo. 
Os seres humanos alcançam esta vitória, quando são capazes de um sacrifício que se faz reparação; Cristo consegue-a, mostrando que o seu modo de amar é misericórdia.  
Um tal excesso de amor, podemos constatá-lo na cruz de Jesus: carrega o ódio e a violência que caem sobre Ele, sem insultar nem ameaçar vingança, mas perdoando, mostrando que há um amor maior. Só Ele o pode fazer, carregando – por assim dizer – com a «nota falsa». A sua morte foi uma vitória alcançada sobre o mal desencadeado pelos seus algozes, que somos todos nós: Jesus crucificado e ressuscitado é a nossa paz e reconciliação (cf. Ef 2, 14; 2 Cor 5, 18).
«Vieste afastar a nossa ruína, procedendo com retidão na presença do nosso Deus»: rezamos nós, nesta noite de vigília, como um imenso povo em marcha seguindo Jesus Cristo ressuscitado, iluminando-nos uns aos outros, arrastando-nos uns aos outros, apoiando-nos na fé em Cristo Jesus. De Maria, escreveram os Santos Padres que Ela, primeiro, concebeu Jesus na fé e só depois na carne, quando disse «sim» ao convite que Deus Lhe dirigiu através do Anjo. Mas aquilo que aconteceu de forma única na Virgem Mãe, verifica-se espiritualmente conosco sempre que ouvimos a Palavra de Deus e a pomos em prática, como pedia o Evangelho (cf. Lc 11, 28). 
Com a generosidade e a coragem de Maria, ofereçamos a Jesus o nosso corpo, para que Ele possa continuar a habitar no meio dos homens; ofereçamos-Lhe as nossas mãos, para acariciar os pequeninos e os pobres; os nossos pés, para ir ao encontro dos irmãos; os nossos braços, para sustentar quem é fraco e trabalhar na vinha do Senhor; a nossa mente, para pensar e fazer projetos à luz do Evangelho; e sobretudo o nosso coração, para amar e tomar decisões de acordo com a vontade de Deus".

Homilia em Fátima noite de 12/05/2017

Cardeal Pietro Parolin

segunda-feira, 27 de março de 2017

segunda-feira, 13 de março de 2017

A cruz como marca da gravidade do nosso pecado

“Neste tempo quaresmal, contemplemos com devoção a imagem do crucifixo: esse é o símbolo da fé cristã, é o emblema de Jesus, morto e ressuscitado por nós. 
Façamos de modo que a cruz marque as etapas do nosso caminho quaresmal para compreender sempre mais a gravidade do pecado e o valor do sacrifício com o qual o Redentor nos salvou”.

Jesus a caminho de Jerusalém, onde deverá sofrer a condenação à morte por crucificação, quer preparar os seus discípulos para este escândalo muito forte para a fé deles e, ao mesmo tempo, preanunciar a sua ressurreição, manifestando-se como o Messias, o Filho de Deus. Na verdade, Jesus estava se demonstrando um Messias diferente do esperado:

“Não um rei poderoso e glorioso, mas um servo humilde, e desarmado; não um senhor de grande riqueza, sinal de bênção, mas um homem pobre que não tem onde reclinar a cabeça; não um patriarca com numerosa descendência, mas solteiro sem casa e sem ninho. 
É realmente uma revelação de Deus de cabeça para baixo, e o sinal mais desconcertante desta contradição é a cruz. 
Mas, precisamente por meio da cruz, Jesus chegará à gloriosa ressurreição”.

Papa Francisco
Angelus de 13-03-2017

O pecado é um estalo que damos a Deus



A presença de Deus vence tentações

"Durante os quarenta dias da Quaresma, como cristãos somos convidados a seguir os passos de Jesus e a enfrentar o combate espiritual contra o Maligno com a força da Palavra de Deus. Não com a nossa palavra, não serve. 
A palavra de Deus: ela tem a força para derrotar Satanás. 
Por esta razão, é necessário familiarizar-se com a Bíblia: lê-la frequentemente, meditá-la, assimilá-la. A Bíblia contém a Palavra de Deus, que é sempre atual e eficaz. 
Alguém disse: o que aconteceria se tratássemos a Bíblia como tratamos o nosso telemóvel? Se a trouxéssemos sempre connosco, ou pelo menos o pequeno Evangelho de bolso, o que aconteceria? 
Se voltássemos atrás quando o esquecemos: te esqueces do telemóvel — oh, não o tenho, volto atrás para o procurar; se a abríssemos várias vezes por dia; se lêssemos as mensagens de Deus contidas na Bíblia como lemos as mensagens do telemóvel, o que aconteceria? 
Obviamente a comparação é paradoxal, mas faz refletir. 
Com efeito, se tivéssemos sempre a Palavra de Deus no coração, nenhuma tentação poderia afastar-nos de Deus e nenhum obstáculo nos poderia fazer desviar do caminho do bem; saberíamos vencer as insinuações quotidianas do mal que está em nós e fora de nós; seríamos mais capazes de levar uma vida ressuscitada segundo o Espírito, acolhendo e amando os nossos irmãos, especialmente os mais débeis e necessitados, e também os nossos inimigos.
A Virgem Maria, ícone perfeito da obediência a Deus e da confiança incondicional à sua vontade, nos sustente no caminho quaresmal, para que nos coloquemos à escuta dócil da Palavra de Deus a fim de realizar uma verdadeira conversão do coração.

Papa Francisco. Angelus 5-III-2017

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Com Jesus nas tentações


O Pontífice recorda que com o diabo não há diálogo, porque a pessoa acaba em pecado e corrupção. “As tentações levam a se esconder do Senhor, permanecendo com a nossa culpa, com o nosso pecado, com a nossa “corrupção”.
Partindo da primeira leitura do Livro do Gênesis, o Santo Padre se detém sobre a tentação de Adão e Eva, e em seguida, sobre a de Jesus no deserto. Ele afirma que é o diabo que se mostra sob a forma de uma serpente.
“É atraente e com a sua astúcia tenta enganar, é especialista nisto, é o pai da mentira, é um mentiroso. Sabe como enganar, como trapacear as pessoas.”
O Papa exemplifica o que de fato aconteceu com Eva. “A fez se sentir bem e assim começa o diálogo e passo a passo o diabo a leva onde ele quer. Com Jesus é diferente, para o diabo termina mal”, recorda Francisco.
Procura dialogar com Cristo, porque “quando o diabo engana uma pessoa o faz com o diálogo, tenta enganá-lo, mas Jesus não cede. Então o diabo se revelada por aquilo que é, mas Jesus dá uma resposta que não é sua, mas sim, da Palavra de Deus. Pois com o diabo não se pode dialogar, acaba-se como Adão e Eva, nus”.
O Pontífice prossegue sua reflexão observando que o diabo não paga bem, é trapaceiro e não cumpre com o que promete. “Ele promete tudo e deixa você nu. Também Jesus acabou nu, mas na cruz, por obediência ao Pai, outra estrada. A serpente, o diabo é inteligente. Todos nós sabemos o que são as tentações, todos nós sabemos, porque todos nós temos. Muitas tentações de vaidade, de orgulho, cobiça, avareza. Tantas”.
Hoje se fala muito de corrupção. Quanto a isso também se deve pedir ajuda ao Senhor. “Existem muitas pessoas importantes corruptas no mundo, que conhecemos suas vidas através dos jornais. Talvez começaram com uma pequena coisa, não sei, não ajustando bem o balanço e o que era um quilo façamos novecentos gramas, mas era um quilo. A corrupção começa de pequenas coisas como esta, com o diálogo. Não é verdade que esta fruta vai fazer mal a você! Coma! É boa! É pouca coisa, ninguém vai perceber! Faz! E pouco a pouco cai-se no pecado, na corrupção.”
A Igreja ensina a não ser ingénuos, a não ser tolos.
Portanto, é preciso ter os olhos abertos e pedir ajuda a Deus, porque sozinhos não conseguimos. Adão e Eva se escondem do Senhor, ao invés disso é preciso a graça de Jesus para voltar e pedir perdão.
Ao concluir, o Pontífice reafirma que na tentação não há diálogo. “Se reza: Ajuda-me Senhor, sou fraco. Não quero me esconder de você. Isso é coragem, isso é vencer. Quando você começa a dialogar terminará vencido, derrotado. Que o Senhor nos dê a graça e nos sustente nesta coragem e se formos enganados pela nossa fraqueza na tentação, que Ele nos dê a coragem de nos levantar e seguir em frente. Jesus veio para isso.”

Homilia da Casa de Santa Marta 10-II-2017
Papa Francisco

sábado, 19 de novembro de 2016

Reconhecer Deus que nos visita

O Pontífice tentou imaginar o fluxo de memória que envolveu Jesus naquele momento e evocou de novo o profeta Oseias: «Quando Israel era menino eu amei-o, mas quanto mais o chamava tanto mais se afastava de mim». Evidenciou-se o «drama do amor de Deus, o afastar-se, a infidelidade do povo». Era, explicou, «aquilo que Jesus tinha no coração»: por um lado a memória de uma «história de amor», até de um «amor “louco” de Deus pelo seu povo, um amor sem medida», e por outro a resposta «egoísta, desmotivada, adúltera, idólatra» do povo.
Há também outro aspeto que emerge do trecho evangélico do dia. De facto, Jesus lamenta-se sobre Jerusalém, «porque – disse – não reconheceste o tempo no qual foste visitada por Deus, pelos patriarcas e pelos profetas». 
O Pontífice sugeriu que na memória de Jesus havia «a parábola divinatória, de quando o patrão envia um seu empregado a receber o dinheiro: é espancado; e depois outro que é assassinado. 
No final envia o seu filho e o que diz o povo? “Mas este é o filho! Este tem a herança... Matemo-lo! E a herança será nossa!». 
É a explicação do que se entende por «hora da visita», isto é: «Jesus é o filho que vem e não é reconhecido. É rejeitado!». Com efeito, no Evangelho de João lê-se: «Veio até eles mas eles não o aceitaram», «a luz veio e o povo escolheu as trevas». 
Portanto é isto, explicou Francisco «que faz sofrer o coração de Jesus Cristo, esta história de infidelidade, de não reconhecimento das carícias de Deus, o amor de Deus, de um Deus apaixonado» que quer a felicidade do homem.
(....)
Neste ponto, a meditação do Pontífice dirigiu-se à vida diária de cada cristão, porque, disse, «este drama não aconteceu só na história e acabou com Jesus. É o drama de todos os dias». 
Cada um de nós pode perguntar-se: «Reconheço o tempo no qual fui visitado? Deus visita-me?».

(...) «fazer um exame de consciência: “Estou atento ao que acontece no meu coração? Sinto? Sei ouvir as palavras de Jesus, quando ele bate à minha porta ou quando me diz: “Desperta! Corrige-te!”; ou quando me diz: “Desce, que quero cear contigo”?».
É uma pergunta importante porque, advertiu o Pontífice, «cada um de nós pode cair no mesmo pecado do povo de Israel, no mesmo pecado de Jerusalém: não reconhecer o tempo no qual fomos visitados».
Diante de tantas nossas certezas – «Mas estou certo das minhas ideias. Vou à missa, tenho a certeza» – é preciso recordar que «todos os dias o Senhor nos visita, bate à nossa porta». E por conseguinte «devemos aprender a reconhecer isto para não acabar naquela situação tão dolorosa» descrita nas palavras do profeta Oseias: «Quanto mais os amava, mais os chamava, mais se afastavam de mim». Portanto, repetiu o Papa: «Tu fazes todos os dias um exame de consciência sobre isto? 
Hoje o Senhor visitou-me? 
Recebi algum convite, alguma inspiração para o seguir mais de perto, para fazer uma obra de caridade, para rezar um pouco mais?», resumindo, para realizar tudo aquilo para o que «o Senhor nos convida todos os dias para se encontrar connosco?». 
Portanto, o ensinamento que nasce desta meditação é que Jesus «chora não só por Jerusalém, mas por todos nós» e que ele «dá a sua vida, para que reconheçamos a sua visita». 
Neste sentido, o Pontífice recordou «uma frase muito vigorosa» de Santo Agostinho: «”Sinto medo de Deus, de Jesus, quando passa!” – “Mas porque sentes medo?” – “Tenho medo de não o reconhecer!”». Por isso, concluiu o Papa, «se tu não estiveres atento ao teu coração, nunca saberás se Jesus te visita ou não».

Papa Francisco
Homilia na Casa de Sta Marta, 17-XI-2016

domingo, 16 de outubro de 2016

Fazer um sacrário do nosso coração

«A comunhão é um céu na terra
para a alma que se compenetra bem do acto que faz…
Tiremos Jesus da Sua fria prisão
e abriguemo-Lo no nosso coração,
tão pobre, mas cheio de amor.»

Santa Teresa dos Andes | 1900 - 1920
Carta 128

Senhor,
a Comunhão traz-me todos os bens,
porque é a Ti mesmo que comungo.
E como desejas ser recebido por mim,
por nós!
Sim, não desces do Céu
para Te fazeres Pão,
e ficares simplesmente no sacrário,
mas sim para vires habitar o meu coração
e transformar-me em Ti.
Saiba eu ser outro Cristo
na vida de todos os que me rodeiam.
Assim seja!

Pregar, Deus a cooperar connosco, confirmar a palavra com as obras




"20 E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram.  Amém"

Último versículo do Evangelho segundo S.Marcos.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A Santa Paciência como expressão da Misericórdia

CARTAS PASTORAIS
Ao passar em revista as obras de misericórdia, detenhamo-nos agora numa que o Catecismo da Igreja Católica enuncia assim: suportar com paciência as contrariedades [8], tanto as que provêm dos nossos próprios limites, como as que procedem de fora. Mantenhamos uma confiança plena na misericórdia do Senhor que, de todos os acontecimentos, sabe tirar o bem. A paciência também cresce como um dos frutos mais saborosos da caridade para com o próximo. S. Paulo refere-o, no seu magnífico hino a esta virtude: O amor é paciente, o amor é prestável; não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, nem guarda ressentimento, não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta [9].
A misericórdia há de conduzir-nos a viver diante dos outros com paciência, também quando se mostram inoportunos. Todos temos defeitos, arestas no caráter e, ainda que o não procuremos voluntariamente, muitas vezes causamos atritos que ferem os outros: os membros da nossa família, os colegas de trabalho, os amigos, nos momentos de crispação que podem surgir, por exemplo, nas filas de trânsito na cidade… Todas estas ocasiões nos dão oportunidade para tornar grata a vida aos outros, sem nos guiarmos por um caráter desordenado.
A paciência leva-nos a focar sem dramatismos as imperfeições dos outros, sem cair na tentação de lhas atirar à cara, nem procurar desabafar comentando-o com terceiros. De pouco serviria, por exemplo, calar-se perante certos defeitos de alguém se depois os puséssemos em evidência com um comentário irónico; ou se o nosso desgosto nos levasse a tratar a pessoa com frieza; ou se caíssemos em formas subtis de murmuração, que fazem mal a quem murmura, àquele que é objeto da murmuração, e a quem a ouve. Sofrer com paciência os defeitos dos outros convida-nos a procurar que essas carências não nos condicionem na altura de lhes querer bem: não se trata de os estimar apesar dessas limitações, mas sim de os amar com essas limitações. Esta é uma graça que podemos pedir ao Senhor: não nos determos nem justificar as nossas más reações perante as maneiras de ser diferentes dos outros que nos desgostam, porque cada uma, cada um, possui sempre muito maior riqueza, mais bondade do que os seus defeitos. Por isso, quando notarmos que o coração não responde, metamo-lo no coração do Senhor: Cor Iesu sacratissimum et misericors, dona nobis pacem! Ele transformará o nosso coração de pedra num coração de carne [10].
Esmeremo-nos, pois, no cumprimento de todos os nossos deveres, até daqueles que parecem menos importantes; aumentemos a nossa paciência nas contrariedades de cada instante, cuidemos dos pequenos pormenores. Temos de tornar mais vigoroso o nosso esforço por melhorar; para isso, correspondamos a Deus nas pequenas lutas em que Ele nos espera. Por que havemos de ficar ressentidos pelos atritos com carateres diferentes e opostos, tão próprios da convivência quotidiana? Lutemos! Vençamo-nos a nós mesmos! É aqui que Deus nos espera [11].
Receber com um sorriso quem vem ter connosco com ar sombrio, ou responde com palavras desabridas ao nosso interesse por eles, revela modos excelentes de viver o espírito de sacrifício. Muitas vezes, aconselhava o nosso Padre, um sorriso é a melhor prova de espírito de penitência. Já no Caminho ,entre os exemplos de mortificação que sugeria nos anos de 1930, indicava:Essa palavra acertada, a «piada» que não saiu da tua boca; o sorriso amável para quem te incomoda; aquele silêncio ante a acusação injusta; a tua conversa afável com os maçadores e com os inoportunos, não dar importância cada dia a um pormenor ou outro, aborrecido e impertinente, de pessoas que convivem contigo... Isto, com perseverança, é que é sólida mortificação interior [12].
Carta  pastoral  de Agosto  de declaração. JAVIER  ECHEVARRIA 

domingo, 14 de agosto de 2016

Ditoso o coração enamorado

«Ditoso o coração enamorado,
que só em Deus pôs o pensamento;
Por Ele renuncia a todo o criado
e n’Ele encontra sua glória e contento.»

Santa Teresa de Jesus | 1515 – 1582
Poesias 5

Dar sem buscar recompensa

«Amar sem medida quer dizer
sacrificar-se sem lamentos,
dar sem buscar recompensa,
perdoar sem rancores,
ajudar sem se cansar.»

Beata Maria Josefina de Jesus Crucificado | 1894 - 1948
Autobiografia. p. 369

Fazer Penitência por nós

«Porque todos somos pecadores,
todos temos necessidade de orar
com humildade e perseverança.
Nisto mesmo, o divino Salvador
nos deu exemplo, porque tomou
sobre Si os nossos pecados e
quis fazer oração por nós.
Foi assim que, antes de iniciar a Sua vida pública,
passou quarenta dias e quarenta noites,
no deserto, a orar e a jejuar
para fazer penitência por nós.»

Serva de Deus Irmã Lúcia de Jesus | 1907 - 2005
Apelos da Mensagem de Fátima, cap. 8

Não colher as flores

«Repare-se que não são só os bens temporais
e os prazeres corporais
que impedem e contrariam
o caminho de Deus.
Também as consolações
e os prazeres espirituais,
quando se procuram
ou efetivamente se têm,
impedem o caminho da cruz do Esposo Cristo.
Portanto, a quem quiser avançar,
convém não ficar a colher essas flores.
Mais ainda, é preciso
que tenha a coragem e a valentia de dizer:
Nem temerei as feras,
e passarei os fortes e fronteiras.
Nestes versos refere-se aos três inimigos da alma:
o mundo, o demónio e a carne.
São eles que lhe fazem guerra
e colocam obstáculos no caminho.»

S. João da Cruz | 1542 - 1591
Cântico Espiritual.3, 5

Tratemos a Virgem Maria como uma Mãe

«Tratemos com a Virgem Maria
como com uma Mãe.
Confiemos a Ela
as nossas debilidades
a fim de que Ela as ajude a vencer;
as nossas tendências
a fim de que as oriente para o bem;
os nossos pensamentos
a fim de que os torne castos;
os nossos afetos,
a fim de que os guarde puros.
Caminhemos até Deus por Maria;
seja Ela a escada para ir até Ele,
como é para nós canal das Suas graças.»

Beata Maria Josefina de Jesus Crucificado | 1894 - 1948
Conselhos. 2, 22

O Amor vence as tribulações

«Às almas mais generosas
costumam apresentar-se outras feras
mais interiores e espirituais,
como sejam, dificuldades e tentações,
tribulações e trabalhos de várias espécies
pelos quais é conveniente passar.
Deus manda-os
aos que quer elevar a grande perfeição,
provando-os e examinando-os
como ouro no fogo,
conforme diz David:
“Muitas são as tribulações dos justos,
mas de todas elas os livrará o Senhor”.
Contudo, a alma enamorada,
que estima o seu Amado
acima de todas as coisas,
confiando no seu amor
e no seu auxílio,
não tem grande dificuldade em dizer:
“Nem temerei as feras, e passarei os fortes e fronteiras”.»

S. João da Cruz | 1542 - 1591
Cântico espiritual. 3, 8

Resistir até ao sangue na luta contra o pecado

Heb. 12,1-4.
Irmãos: Estando nós rodeados de tão grande número de testemunhas, libertemo-nos de todo o impedimento e do pecado que nos cerca e corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós,
fixando os olhos em Jesus, guia da nossa fé e autor da sua perfeição. Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance, Ele suportou a cruz, desprezando a sua ignomínia, e está sentado à direita do trono de Deus.
Pensai n’Aquele que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores, para não vos deixardes abater pelo desânimo.
Vós ainda não resististes até ao sangue, na luta contra o pecado.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

O Pai Nosso, segundo o Papa Francisco

Quando orardes, dizei:" Pai ... ", respondeu Jesus, e o Papa salientou que esta palavra “Pai”  o "segredo" da oração de Jesus, é a chave que Ele nos dá para entrarmos numa relação de diálogo confidencial com Deus.
Ao apelativo "Pai" Jesus associa dois pedidos – prosseguiu Francisco: 
"Santificado seja o vosso nome, venha o vosso reino", para realçar que a oração de Jesus, e também a oração cristã, é antes de tudo dar um lugar a Deus, deixando-o manifestar a sua santidade em nós e fazendo progredir o seu reino na nossa vida.
Outros três pedidos complementam o "Pai Nosso", pedidos que exprimem as nossas necessidades fundamentais: pão, perdão e ajuda na tentação:
“O pão que Jesus nos faz pedir é o pão necessário e não o supérfluo; é o pão dos peregrinos, um pão que não se acumula nem se desperdiça, pão que que não torna pesada a nossa marcha; o perdão é, antes de tudo, aquele que nós mesmos recebemos de Deus: somente a consciência de sermos  pecadores perdoados pela infinita misericórdia de Deus pode fazer-nos capazes de fazer gestos concretos de reconciliação fraterna; o último pedido, "não abandonar-nos na tentação", exprime a consciência da nossa condição, sempre exposta às insídias do mal e da corrupção”.
E Jesus prossegue tomando como modelo de oração a atitude de um amigo em relação com outro amigo e a de um pai em relação com o filho. Ambas as parábolas querem ensinar-nos a ter plena confiança em Deus, que é Pai, disse o Papa ressaltando que Ele sabe melhor que nós as nossas necessidades, mas quer as apresentemos a ele com coragem e com insistência, pois esta é a nossa maneira de participar na Sua obra de salvação.
“A oração é o primeiro e o  principal ‘instrumento de trabalho’ em nossas mãos! 
Insistir com Deus não é para convencê-lo, mas para fortalecer a nossa fé e a nossa paciência, ou seja, a nossa capacidade de lutar juntamente com  Deus pelas coisas que verdadeiramente são importantes e necessárias. Na oração somos dois: Deus e eu a lutar juntos para as coisas importantes”.
Entre estas coisas importantes, disse ainda Francisco, tem uma que é mais importante do que todas, mas que quase nunca pedimos, e é o Espírito Santo, pois Jesus diz: "Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso  Pai celeste dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!". 
O Espírito Santo serve para vivermos bem, para vivermos com sabedoria e amor, fazendo a vontade de Deus, concluiu convidando a todos e a cada um a pedir ao Pai durante esta semana: “Pai, dá-me o Espírito Santo, Pai, dá-me o Espírito Santo”. 
Que a Virgem Maria cuja vida foi toda ela animada pelo Espírito de Deus, nos ajude a rezar ao Pai unidos a Jesus, e a vivermos não de maneira mundana, mas segundo o Evangelho, guiados pelo Espírito Santo.

Angelus
24-VII-2016

domingo, 26 de junho de 2016

Vós sois o meu refúgio

Salmos 16(15),1-2.5.7-8.9-10.11.
Defendei-me, Senhor: Vós sois o meu refúgio.
Digo ao Senhor: "Tu és o meu Deus."
Senhor, porção da minha herança e do meu cálice,
está nas vossas mãos o meu destino.

Bendigo o Senhor por me ter aconselhado,
até de noite me inspira interiormente.
O Senhor está sempre na minha presença,
com Ele a meu lado não vacilarei.

Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta,
e até o meu corpo descansa tranquilo.
Vós não abandonareis a minha alma
na mansão dos mortos,

nem deixareis o vosso fiel sofrer a corrupção.
Dar-me-eis a conhecer os caminhos da vida,
alegria plena na vossa presença,
delícias eternas à vossa direita.

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