sábado, 19 de novembro de 2016

Reconhecer Deus que nos visita

O Pontífice tentou imaginar o fluxo de memória que envolveu Jesus naquele momento e evocou de novo o profeta Oseias: «Quando Israel era menino eu amei-o, mas quanto mais o chamava tanto mais se afastava de mim». Evidenciou-se o «drama do amor de Deus, o afastar-se, a infidelidade do povo». Era, explicou, «aquilo que Jesus tinha no coração»: por um lado a memória de uma «história de amor», até de um «amor “louco” de Deus pelo seu povo, um amor sem medida», e por outro a resposta «egoísta, desmotivada, adúltera, idólatra» do povo.
Há também outro aspeto que emerge do trecho evangélico do dia. De facto, Jesus lamenta-se sobre Jerusalém, «porque – disse – não reconheceste o tempo no qual foste visitada por Deus, pelos patriarcas e pelos profetas». 
O Pontífice sugeriu que na memória de Jesus havia «a parábola divinatória, de quando o patrão envia um seu empregado a receber o dinheiro: é espancado; e depois outro que é assassinado. 
No final envia o seu filho e o que diz o povo? “Mas este é o filho! Este tem a herança... Matemo-lo! E a herança será nossa!». 
É a explicação do que se entende por «hora da visita», isto é: «Jesus é o filho que vem e não é reconhecido. É rejeitado!». Com efeito, no Evangelho de João lê-se: «Veio até eles mas eles não o aceitaram», «a luz veio e o povo escolheu as trevas». 
Portanto é isto, explicou Francisco «que faz sofrer o coração de Jesus Cristo, esta história de infidelidade, de não reconhecimento das carícias de Deus, o amor de Deus, de um Deus apaixonado» que quer a felicidade do homem.
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Neste ponto, a meditação do Pontífice dirigiu-se à vida diária de cada cristão, porque, disse, «este drama não aconteceu só na história e acabou com Jesus. É o drama de todos os dias». 
Cada um de nós pode perguntar-se: «Reconheço o tempo no qual fui visitado? Deus visita-me?».

(...) «fazer um exame de consciência: “Estou atento ao que acontece no meu coração? Sinto? Sei ouvir as palavras de Jesus, quando ele bate à minha porta ou quando me diz: “Desperta! Corrige-te!”; ou quando me diz: “Desce, que quero cear contigo”?».
É uma pergunta importante porque, advertiu o Pontífice, «cada um de nós pode cair no mesmo pecado do povo de Israel, no mesmo pecado de Jerusalém: não reconhecer o tempo no qual fomos visitados».
Diante de tantas nossas certezas – «Mas estou certo das minhas ideias. Vou à missa, tenho a certeza» – é preciso recordar que «todos os dias o Senhor nos visita, bate à nossa porta». E por conseguinte «devemos aprender a reconhecer isto para não acabar naquela situação tão dolorosa» descrita nas palavras do profeta Oseias: «Quanto mais os amava, mais os chamava, mais se afastavam de mim». Portanto, repetiu o Papa: «Tu fazes todos os dias um exame de consciência sobre isto? 
Hoje o Senhor visitou-me? 
Recebi algum convite, alguma inspiração para o seguir mais de perto, para fazer uma obra de caridade, para rezar um pouco mais?», resumindo, para realizar tudo aquilo para o que «o Senhor nos convida todos os dias para se encontrar connosco?». 
Portanto, o ensinamento que nasce desta meditação é que Jesus «chora não só por Jerusalém, mas por todos nós» e que ele «dá a sua vida, para que reconheçamos a sua visita». 
Neste sentido, o Pontífice recordou «uma frase muito vigorosa» de Santo Agostinho: «”Sinto medo de Deus, de Jesus, quando passa!” – “Mas porque sentes medo?” – “Tenho medo de não o reconhecer!”». Por isso, concluiu o Papa, «se tu não estiveres atento ao teu coração, nunca saberás se Jesus te visita ou não».

Papa Francisco
Homilia na Casa de Sta Marta, 17-XI-2016

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