O Pontífice tentou imaginar o fluxo de memória que
envolveu Jesus naquele momento e evocou de novo
o profeta Oseias: «Quando Israel era menino eu
amei-o, mas quanto mais o chamava tanto mais se afastava de mim».
Evidenciou-se o «drama do amor de Deus,
o afastar-se, a infidelidade do povo».
Era, explicou, «aquilo que Jesus tinha no coração»: por um lado a
memória de uma «história de amor», até de um «amor “louco” de Deus pelo seu
povo, um amor sem medida», e por outro a resposta «egoísta, desmotivada,
adúltera, idólatra» do povo.
Há também outro
aspeto que emerge do trecho evangélico do dia. De facto, Jesus lamenta-se sobre
Jerusalém, «porque – disse – não reconheceste o tempo no qual foste visitada por
Deus, pelos patriarcas e pelos profetas».
O Pontífice sugeriu que na memória de
Jesus havia «a parábola divinatória, de quando o patrão envia um seu empregado a receber o
dinheiro: é espancado; e depois outro que é assassinado.
No final envia o seu filho
e o que diz o povo? “Mas este é o filho!
Este tem a herança... Matemo-lo! E a herança será nossa!».
É a explicação do
que se entende por «hora da visita», isto é: «Jesus é o filho que vem e não é
reconhecido. É rejeitado!». Com efeito, no Evangelho de João lê-se: «Veio até
eles mas eles não o aceitaram», «a luz veio e o povo escolheu as trevas».
Portanto é isto, explicou Francisco «que faz sofrer o coração de Jesus Cristo,
esta história de infidelidade, de não reconhecimento das carícias de Deus, o amor
de Deus, de um Deus apaixonado» que quer a felicidade do homem.
(....)
Neste ponto, a
meditação do Pontífice dirigiu-se à vida diária de cada cristão, porque, disse,
«este drama não aconteceu só na história e acabou com Jesus. É o drama de todos
os dias».
Cada um de nós pode perguntar-se: «Reconheço o tempo no qual fui
visitado? Deus visita-me?».
(...) «fazer um exame de consciência: “Estou atento ao que acontece no meu coração? Sinto? Sei ouvir as palavras de Jesus, quando ele bate à minha porta ou quando me diz: “Desperta! Corrige-te!”; ou quando me diz: “Desce, que quero cear contigo”?».
É uma pergunta importante porque, advertiu o Pontífice, «cada um de nós pode cair no mesmo pecado do povo de Israel, no mesmo pecado de Jerusalém: não reconhecer o tempo no qual fomos visitados».
Diante
de tantas
nossas certezas – «Mas estou certo das minhas ideias. Vou à missa, tenho
a
certeza» – é preciso recordar que
«todos os dias o Senhor nos visita, bate à nossa porta». E por
conseguinte
«devemos aprender a reconhecer isto para não acabar naquela situação tão
dolorosa» descrita nas palavras do profeta Oseias: «Quanto mais os
amava, mais
os chamava, mais se afastavam de mim». Portanto, repetiu o Papa: «Tu
fazes todos os dias um exame de consciência sobre isto?
Hoje o
Senhor visitou-me?
Recebi algum convite, alguma inspiração para o
seguir mais de perto, para fazer uma
obra de caridade, para rezar um pouco mais?», resumindo, para realizar
tudo
aquilo para o que «o Senhor nos convida todos os dias para
se encontrar connosco?».
Portanto, o
ensinamento que nasce desta
meditação é que Jesus «chora não só por Jerusalém, mas por todos nós» e
que ele
«dá a sua vida, para que reconheçamos a sua visita».
Neste sentido, o
Pontífice
recordou «uma frase muito vigorosa» de Santo Agostinho: «”Sinto medo de
Deus,
de Jesus, quando passa!” – “Mas porque sentes medo?” –
“Tenho medo de não o reconhecer!”». Por isso, concluiu o Papa, «se tu
não estiveres atento ao teu coração, nunca saberás se Jesus te visita
ou não».
Papa Francisco
Homilia na Casa de Sta Marta, 17-XI-2016
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