domingo, 9 de novembro de 2014

A aridez do poeta

"Estou contente, muito contente, Luisa.
O Senhor andou a experimentar-me, fechou-me a garganta por dois meses, a ver se eu perdia a Fé.
Ora eu, apesar de me doer este pseudo-esquecimento, não descri.
E Deus recompensou-me.
Ontem saí, com luar.
A dez passos de casa rezei, de joelhos, as minhas orações do costume; pedi depois, enquanto andava, muitas coisas a Deus: que me deixasse ser bom, que me evitasse o orgulho, que me desse ordem de ser Poeta.
Quando voltei a casa, à uma da noite, trazia um soneto: escrevi-o, ajoelhei-me a agradece-lo, esse presente de anos"

Sebastião da Gama. Carta I. páginas 55 a 56

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