domingo, 29 de julho de 2012

Converter o trabalho em oração e apostolado

Convencei-vos de que não se torna difícil converter o trabalho num diálogo de oração.
Basta oferecê-lo a Deus e meter mãos à obra, pois Ele já nos está a ouvir e a alentar.
Assim, nós, no meio do trabalho quotidiano, conquistamos o modo de ser das almas contemplativas, porque nos invade a certeza de que Deus nos olha, sempre que nos pede uma nova e pequena vitória: um pequeno sacrifício, um sorriso à pessoa importuna, começar pela tarefa menos agradável e mais urgente, ter cuidado com os pormenores de ordem, ser perseverante no dever quando era tão fácil abandoná-lo, não deixar para amanhã o que temos de terminar hoje...
E tudo isto para dar gosto ao Nosso Pai Deus!
Entretanto, talvez sobre a tua mesa ou num lugar discreto que não chame a atenção, para te servir de despertador do espírito contemplativo, pões o crucifixo, que já se tornou para a tua alma e para a tua mente o manual onde aprendes as lições de serviço.

Se te decidires – sem fazer coisas esquisitas, sem abandonar o mundo, no meio das tuas ocupações habituais – a entrar por estes caminhos de contemplação, sentir-te-ás imediatamente amigo do Mestre e com o encargo divino de abrir os caminhos divinos da terra a toda a humanidade.
Sim, com esse teu trabalho contribuirás para que se estenda o reinado de Cristo em todos os continentes e seguir-se-ão, uma atrás da outra, as horas de trabalho oferecidas pelas longínquas nações que nascem para a fé, pelos povos do leste barbaramente impedidos de professar com liberdade as suas crenças, pelos países de antiga tradição cristã onde parece que se obscureceu a luz do Evangelho e as almas se debatem nas sombras da ignorância...

Que valor adquire então essa hora de trabalho, esse continuar com o mesmo empenho durante um pouco mais de tempo, alguns minutos mais, até rematar a tarefa.
Convertes assim, de um modo prático e simples, a contemplação em apostolado, como necessidade imperiosa do coração, que pulsa em uníssono com o dulcíssimo e misericordioso Coração de Jesus, Nosso Senhor.
S.José Maria Escrivá de Balaguer
in "Amigos de Deus", ponto 67

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Esta é a voz do meu Amado

Esta é a voz do meu amado.
Ei-lo que vem saltando sobre os montes, pulando sobre os outeiros.
O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho da gazela.
Eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades.
O meu amado fala e diz-me: ‘Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem.
Passou o inverno; a chuva cessou, e foi-se embora; Rebentam as flores na terra, o tempo das canções regressa, e a voz da rola ouve-se em nossa terra.
A figueira já deu os seus figos verdes, e as vides em flor exalam o seu aroma; levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem.
Pomba minha, que andas pelas fendas dos penhascos, no oculto das ladeiras: mostra-me a tua face, faz-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa.’” (Cant. 2, 8-14)

Não me largues

"Senhor, que pouco valho!
Que cobarde tenho sido tantas vezes!
Quantos erros!
Nesta ocasião e naquela... nisto e naquilo...
E podemos exclamar também: ainda bem, Senhor, que me tens sustentado com a tua mão, porque eu sinto-me capaz de todas as infâmias...
Não me largues, não me deixes;
trata-me sempre como um menino.
Que eu seja forte, valente, íntegro.
Mas ajuda-me, como a uma criatura inexperiente.
Leva-me pela tua mão, Senhor, e faz com que tua Mãe esteja também a meu lado e me proteja.
E assim, possumus!, poderemos, seremos capazes de ter-Te por modelo! "

S.José Maria Escrivá de Balaguer in Cristo que passa, 15

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Saber "adiantar-se" em direção à Cruz

"Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre haviam de vir, ADIANTOU-SE, e disse-lhes: a quem buscais ?"
S.João cap. 18, 4

No início do processo da paixão de Cristo que culminará com a sua morte, Jesus "adiantou-se" ao início da cruz.

"Adiantou-se"

Se quisermos ser e que nos chamem "Cristãos" temos que :

- Nos adiantar no serviço à caridade para os que nos estão próximos,

- Nos adiantar no início, desenvolvimento e finalização de todos os trabalhos, mesmo os que mais nos custam

- Nos adiantar na prática das mortificações activas e passivas que espreitam em cada recanto do nosso dia-a-dia.

- Nos adiantar na renuncia de comodidades e caprichos desnecessários e não essenciais.

Cristo tem necessidade de pessoas que se ADIANTEM em direcção à Cruz salvadora e redentora, para que, desta forma, fazendo-nos participantes da redenção, muitos mais se salvem e muitas faltas passadas e presentes sejam desagravadas.

Senhor que eu, em cada momento, me possa adiantar no serviço à tua Cruz !

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Que pela ferida visível víssemos a ferida invisível do amor


Além da sua entrega na cruz, entregando a sua vida, Cristo entregou também o seu próprio coração, relembrando as palavras que Ele próprio disse "onde tens o teu coração, aí tens o teu tesouro".
Por isso, já depois de morto, o seu coração foi aberto pela lança do soldado, abrindo-se ao mundo e a nós.
Cristo deu-se por nós e abriu o seu coração (também fisicamente falando) a nós.

Ele mostra o seu coração vivo e como ferido e inflamado de um amor mais ardente do que quando, já exânime, o feriu a lança do soldado romano: "Por isto foi ferido (o teu coração), para que pela ferida visível víssemos a ferida invisível do amor "
(Cfr S. Boaventura, Opusc. X: Vitis mystica, c. III, n. 5: Opera Omnia, Ad Claras Aquas (Quaracchi), 1898, t. VIII, p. 164; cf, s. Tomás, Summa theol., III, q. 54, a. 4; ed. Leon., t. XI,1903, p. 513, citado no ponto 44, parte final da Encíclica Haurietis Aquas)

"Por conseguinte, não pode haver dúvida alguma de que, ante as súplicas de tão grande advogado, e feitas com tão veemente amor, o Pai celestial, "que não perdoou seu próprio filho, mas o entregou por todos nós" (Rm 8, 32), por meio dele derramará incessantemente sobre todos os homens a abundância das suas graças divinas". (Cfr. ponto 45 da Encíclica Haurietis Aquas)

domingo, 15 de julho de 2012

Saber escutar

A escuta talvez seja o sentido de verificação mais adequado para acolher a complexidade que uma vida é. Contudo, nós escutamo-nos tão pouco e, dentre as competências que desenvolvemos, raramente está a arte de escutar.
Na regra de São Bento há uma expressão essencial se queremos perceber como se ativa uma escuta autêntica: «abre o ouvido do teu coração».
Quer dizer: a escuta não se faz apenas com o ouvido exterior, mas com o sentido do coração.
A escuta não é apenas a recolha do discurso verbal.
Antes de tudo é atitude, é inclinar-se para o outro, é confiar-lhe a nossa atenção, é disponibilidade para acolher o dito e o não dito, o entusiasmo da história ou a sua dor mais ou menos ciciada, o sentimento de plenitude ou de frustração.
E fazer isto sem paternalismos e sem cair na tentação de se substituir ao outro.
Ouvir é oferecer um ombro, onde o outro possa colocar a mão, para rapidamente se levantar. Ouvir é colaborar amigavelmente num processo de discernimento cuja palavra derradeira cabe sempre à liberdade do próprio.
Padre José Tolentino Mendonça
In Diário de Notícias da Madeira
06.03.11 

domingo, 8 de julho de 2012

Caridade é um olhar afetuoso

Que cada um se saiba apoiado, protegido, pela oração e pelo cuidado fraterno dos outros.
Esmeremo-nos em servir, de maneira a que o convívio com os outros decorra de forma amável, agradável, com detalhes concretos.
Muitas vezes basta um sorriso, um olhar afetuoso, um saber escutar com verdadeiro interesse os problemas dos outros, para aliviar a situação de quem atravessa um período difícil.
Que atualidade conservam aquelas palavras de Caminho: Mais que em “dar”, a caridade está em “compreender”!(Caminho 463)
D.Javier Echevarria
Carta Pastoral de Julho de 2012

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Deus está por nós, se permanecemos no seu Amor

É muito reconfortante saber que Jesus Cristo, na véspera da sua Paixão e morte, rezou por nós. Não só pelos que estavam consigo naquela altura, para todos os que, em todas as épocas e tempos, estão por ele:

"E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hã-de crer em mim (...) para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim e que os tens amado a eles como me tens amado a mim.
(...) para que o amor com que me tens amado esteja neles e eu neles esteja".
João, cap. 17, vers. 20, 23 

Estar em Deus, é estar e viver o seu Amor, amor a Deus e amor ao próximo.

Esta oração de Jesus é, ao mesmo tempo, uma promessa e mais do que uma promessa, é uma garantia de que todos os cristãos que vivem a entrega aos outros e a Deus, no seu dia-a-dia, não perecerão e manter-se-ão firmes porque, como dizia S.Paulo, nem a morte, nem o cansaço, nem as traições, nem os ataques de fora poderão prevalecer contra o Amor de Deus que está em nós e que, por seu intermédio, nos diviniza.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Só saíndo de si mesmo, é que se é cristão


Tornar-se cristão não é algo que deriva de uma minha decisão: «Agora faço-me cristão».
(...)
só morrendo para o meu egoísmo, saindo de mim mesmo, posso ser cristão.


Tomou tudo para santificar tudo

Com maior concisão e não menor força estas passagens de s. João Damasceno atestam a doutrina da Igreja: "O Deus todo tomou todo o homem, e o todo se uniu ao todo para proporcionar a salvação do homem todo. De outra maneira não teria ele podido sanar aquilo que não assumiu".(21)
"Tomou, pois, tudo para santificar tudo".(22)

Papa Pio XII.Haurireis Águas, ponto 25 fim

Cristo assumiu a nossa condição humana, entristeceu-se, teve fome, suportava a sede e o suor, chorou, cansou-se, tinha sono, madrugava ou deitava-se mais tarde para poder rezar ao Pai, sentiu angústia e ansiedade, inquietou-se perante o cenário da morte, tal como qualquer um de nós.
Tinha compaixão pelos outros, mas também revolta pela exploração sacrílega dos vendilhões do templo.
Fez-se humano e perecível para que, através de Cristo, podermos nós próprios pegar em todas as nossas angústias, tristezas, ansiedades e mínguas diversas e ser Cristo.

domingo, 1 de julho de 2012

Deus é rico em misericórdia pelo excessivo amor com que nos ama

"(..) não sendo possível ao homem satisfazer pelo pecado, que manchava toda a natureza humana, deu-lhe Deus um reparador na pessoa de seu Filho.
Ora, isto foi, da parte de Deus, um gesto de mais generosa misericórdia (isto é, entregar o seu próprio filho, ou seja, uma parte do próprio Deus, para que os filhos menores pudessem ser salvos) do que se ele houvesse perdoado os pecados sem exigir qualquer satisfação. Por isso está escrito: 'Deus, que é rico em misericórdia, movido pelo excessivo amor com que nos amou quando estávamos mortos pelos pecados, deu-nos vida juntamente em Cristo'" (Ef 2, 4).

S.Tomás de Aquino. Summa Theol., III, q. 46, a. l ad 3; ed. Leon., t. XI,1903, p. 436

Esse Amor de Deus traduziu-se no facto do próprio Deus ter entregue o seu próprio Filho, para tomando as mesmas formas dos seus filhos da terra, os pudesse, assim, salvar:

"E por isso que os filhos têm comuns a carne e o sangue, ele também participou das mesmas coisas... Pelo que, em tudo teve de se assemelhar a seus irmãos, afim de ser um pontífice misericordioso e fiel para com Deus, em ordem a expiar os pecados do povo. Já que, em razão de haver ele mesmo padecido e de ter sido tentado, pode também dar a mão aos que são tentados"
Hb 2,11-14; 17-18.

Etiquetas

Arquivo do blogue