Toda a cultura contemporânea busca um Deus coenvolvido e coenvolvente, sensível ao coração; não gnose ou teoria, mas experiência.
O realizador polaco Krzysztof Kieslowski, no primeiro episódio do seu Decálogo («Não terás outro Deus...»), oferece uma das definições de Deus mais emocionantes, mais «estéticas». O pequeno protagonista, Pawel, órfão de mãe e educado numa fé laica na ciência, pelo pai, engenheiro informático - o seu deus é a ciência -, pergunta à tia: «Como é Deus?» A tia permanece um momento em silêncio, depois, aproxima-se de Pawel, abraça-o, aperta-o contra si e sussurra-lhe: «Pawel, como é que agora te sentes?» «Bem», responde a criança. Em seguida, um silêncio: «Estás a ver, Deus é assim», sugere a tia.
Deus como um abraço, Deus como um estreitar caloroso e afetuoso, como emoção.
É uma das definições mais extraordinárias de Deus que a cultura atual elaborou. Um Deus sensível ao coração, estético, apreendido na experiência, no calor do vivido quotidiano. Um Deus que não é gnose ou conceito, mas proximidade e experiência, um Deus próximo que brinca e ri com os seus filhos, «perante os veementes jogos do mar e do sol».
O verdadeiro e o bem, para convencerem e se fazerem amar, devem também ser aprazíveis. Não é suficiente a veritas, é necessário o veritatis splendor, o esplendor da verdade, o resplandecer da verdade. «Esplendor» não é um termo lógico-racional, mas pertence à linguagem estética e artística, alusiva e emotiva. Escreve Hans Urs von Balthasar: «Onde a beleza se dilui, também o bem perde a sua força de atração, a verdade esgota a sua força de conclusão lógica.»
A verdade, para se tornar parte da vida, para acorrentar a si, para seduzir - do latim secam ducere, ou seja, levar consigo -, para te prender o coração e criar o apreço fiducial que é a fé, deve ser bela e aprazível, uma verdade amável. Deus não nos seduz com a sua eternidade, mas com a beleza dos gestos de amor de Jesus Cristo, com os sulcos traçados na consciência pelos encantos do mundo que existe.
(...)
Mas quando verdade e ternura estão entre si ligadas, como na figura do Pai revelado por Jesus, então oferecem a plenitude. Os cristãos são, de facto, os que fazem a verdade no amor, veritatem facientes in caritate (Ef 4,15). A verdade, por si só, pode tornar-se cruel, o amor sozinho pode ser estéril
(...)
A fé entendida como risco e experiência torna-se mais atraente. O dogma não se converte em adesão, mas em fonte de significado para a vida e em ajuda para a compreensão do mistério do viver.
Ermes Ronchi
In Os beijos não dados / Tu és Beleza, ed. Paulinas
O mundo tem uma parte visível que tem a ver com a nossa vida exterior e outra interior, os nossos pensamentos, a nossa relação interior com o outro mas também com o que não vemos. Este blog pretende ser um armazém de pensamentos e considerações de natureza católica sobre aquilo que não se vê, mas pode-se ver, se quisermos
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